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sábado, 26 de julho de 2014

Cemitério de Highgate (Londres)

O Cemitério de Highgate (oficialmente St. James), em Londres, faz parte da lista dos denominados Magnificient Seven (Sete Magníficos), construídos na primeira metade do séc. XIX, com o objectivo de solucionar a sobrelotação dos cemitérios paroquiais londrinos.




Highgate data de 1839 (a ala oeste) e de 1854 (a ala leste), sendo actualmente o cemitério mais popular e o mais visitado dos "Sete".



A ala oeste realiza apenas visitas guiadas, as quais duram uma hora, marcadas com dias de antecedência e sujeitas a confirmação. (Segundo visitantes de vários pontos do mundo é nesta ala que estão os "tesouros" tumulares mais ricos em beleza e ornamento, inclusive as famosas catacumbas egípcias.)



Infelizmente, não me foi possível contemplar nenhum destes maravilhosos monumentos da ala oeste, no decurso da minha visita ao local, em Janeiro deste ano. Assim, fiquei apenas pela visita à ala leste, a qual me decepcionou unicamente pelo cenário de abandono e de desolação, presente em inúmeras sepulturas. 

(Atenção que todas as fotos aqui publicadas são da ala leste do cemitério!)





Tratando-se de um cemitério histórico, num país civilizado como a Inglaterra (e na capital do mesmo), com meios financeiros e tanto orgulho na sua história e legado, acreditei que encontraria este local com outro tipo de manutenção e de cuidado, no que diz respeito a conservação das suas sepulturas. 




No fundo, vejo os cemitérios como uma extensão dos monumentos e das estátuas que formam o espólio de cada país e nação. São assim uma marca, em permanente mutação, da história que compôs, compõe e irá compor os mesmos.



Contudo, creio que, infelizmente, a problemática da morte-além-morte é mais complexa, estando presente no mundo inteiro. Famílias que se extinguem por completo ou outras sem forma de realizarem a conservação adequada permitem que o tempo, esse inimigo voraz e implacável destrua as pedras, as palavras, as formas, os símbolos e, consequentemente, a memória daquelas vidas. E não há quem possa deter este ciclo cruel... 





Highgate é um cemitério histórico, de elevada riqueza simbólica e monumental, moradia de personalidades bem célebres nas mais diversas áreas sociais, humanas, políticas, artísticas e afins, mas está também (e fragilmente) à mercê dos elementos da natureza (a chuva, o sol, o vento, a terra tornada lama e a asfixia das árvores, ramos, folhas e arbustos).



Porém, neste cenário considerado fantasmagórico por muitos, encontrei elementos de verdadeira beleza. Os anjos são sempre uma bênção para o meu olhar, por assim dizer. E os anjos de Highgate são inúmeros e absolutamente "divinais". As suas expressões ora humanas, ora etéreas transportam-nos através de outros tempos, mundos e realidades. 



As fotos seguintes congregam os meus anjos favoritos deste cemitério. Alguns ganharam pequenas mutilações por parte da erosão, mas não perderam o seu carácter divino.

















Para além dos anjos, Highgate está repleto de sepulturas com cruzes celtas e cruzes cristãs, flores e/ou coroas de flores, livros e urnas, assim bem como lápides em formato ogival.
À excepção das cruzes celtas, os outros símbolos são comuns a muitos dos símbolos utilizados nos cemitérios de Portugal.








Na moradia da morte, existe também uma espécie de lição e de conforto, através da simbologia tumular. No fundo, há uma aceitação do fim físico e do carácter passageiro da vida.

Esta foto, na qual se lê "And with the morn those angel faces smile" (Com o luto estas faces de anjo sorriem), demonstra uma esperança plena na salvação. Os anjos simbolizam a ligação entre o plano terrestre e o plano celestial, pois são os guias das almas até ao descanso eterno. Como tal, vemo-los gratos e sorridentes com a sua missão.


Uma das sepulturas que mais me causou expectativa, pela sua singularidade quando pesquisei online sobre este cemitério (antes da viagem) foi o "piano" de Thornton (William Thornton - um pianista clássico dos séc. XIX e XX). 
Com o passar dos anos, a área circundante ganhou mais vegetação e partes da sepultura foram substituídas por outras novas, bem mais polidas e reluzentes.
Actualmente, as diferenças entre a estrutura inicial e a estrutura alterada são realmente notórias no tom do mármore.




Mas esta visita não teve apenas um carácter introspectivo e de contemplação.
Quase no final, conhecemos o gato Domino, que habita nestes muros e é um dos gatos "vadios" mais dóceis que conheci. Ah, e posou para a fotografia, portanto suponho que já esteja familiarizado com estes procedimentos turísticos.



Da próxima vez que regressar a Londres/ zona de Highgate pretendo visitar a outra ala do cemitério. 
Será que faz jus aos rumores que se ouvem e lêem? 
Continuarei curiosa... 








quinta-feira, 17 de julho de 2014

Cemitério do Alto de S. João (Lisboa)

O Cemitério do Alto de S. João, em Lisboa (zona oriental, é inegavelmente um dos meus Jardins de Pedra favoritos. 

Foi construído em 1833, durante o terrível surto de cholera morbus, a qual vitimou um número incontável de pessoas.
É constituído por inúmeros jazigos e mausoléus ricamente ornamentados e decorados, repletos de simbolismo e crença, assim como por sepulturas comuns, mas detentoras do traço característico da sua época. Existe igualmente uma vasta secção dedicada aos combatentes mortos na catastrófica Grande Guerra (1ª Guerra Mundial).
Muitos dos jazigos e mausoléus deste Jardim são pequenas moradias à semelhança da moradia em vida, ou capelas para acolher a salvação eterna, ou até mesmo pequenas catedrais com arcos, vitrais, abóbadas, estátuas e gárgulas maravilhosamente pormenorizados.

Este segmento de fotos é apenas uma ínfima parte da beleza que pode ser revelada no Alto de S. João.




As ruas e as ruelas contam-nos histórias, assim como as formas esculpidas nas pedras e as frases que nelas habitam.






A Vida e a Morte apresentam a sua estreita ligação, nos mais variados elementos circundantes.








As distintas e variadas estátuas compõem o topo dos jazigos e dos mausoléus, como altares para um céu aberto.




Cruzes, anjos e flores são símbolos recorrentemente utilizados, numa perspectiva de elogio à Vida Eterna e de triunfo sobre a morte física. 

O hino ao Espírito prevalece. O espírito é imortal e aqui permanece.


Encontramos o fervor religioso: a procura da salvação, de mãos dadas com a Vida Eterna.






Existem ainda lições de Vida e, consequentemente, lições para aprender com a Morte.




Temos a presença e a glorificação das recordações  e do legado deixado em vida: a Vida sobrepõe-se à Morte.







Mas, por toda a parte, também nos espreitam caveiras e os seus ossos cruzados: é a inevitável aceitação da vida mortal e do carácter real da Morte.






segunda-feira, 14 de julho de 2014

Hotel da Cova

António Nobre (1867-1900)
"Ah Deixem-me dormir!"


"Olá, bom velho! é aqui o Hotel da Cova,
Tens algum quarto ainda para alugar?
Simples que seja, basta-me uma alcova...
(Como eu estou molhado! é de chorar...)"



Foto: Cemitério do Alto de S. João (Lisboa)